Nossa cidade das poucas mangueiras e das samaumeiras derrubadas completa 404 anos neste domingo (12) com a tradicional festa do “bolo e circo” no principal cartão postal da cidade: o Ver-o-Peso – aquele mesmo, onde dois urubus foram flagrados atestando a qualidade de uns peixes frescos que estavam à venda. Aliás, se você comprou, “mete ficha” no limão com sal porque Belém não é para amadores!
Para este dia tão importante, talvez você tenha se perguntado: como expressar o amor por essa cidade tão bem cuidada e organizada, em que se passa a maior parte do tempo preso em engarrafamentos sem hora nem locais? Em Belém esconde-se o celular no sutiã ao sair na rua a qualquer hora do dia, para se caminhar por um infinito de calçadas irregulares e fugir do “rio que é minha rua” na João Paulo II depois de um toró, por exemplo. Entre a poesia e apatia, tenho certeza que é difícil imaginar algo tão profundo e poético quanto duas pessoas em uma moto se aproximando de você.
Ironias à parte, não é difícil pensar em coisas boas sobre Belém. Por exemplo, temos uma rica gastronomia, as tais cores e sabores que viraram clichês inevitáveis ao se falar da cidade e somos um povo acolhedor e caloroso. Calor… Vai me dizer que você nunca “puxou papo” com alguém enquanto estava grudado com outras tantas pessoas nos ônibus quentes e lotados que se arrastam nas vias de asfalto irregular? As pernas cansadas após um dia exaustivo de trabalho não dão conta de te sustentar, enquanto os braços estão falsamente pendurados naquela barra horizontal que passa sobre a sua cabeça. Você olha para as janelas úmidas e se retorce de um lado para o outro porque respirar se torna insuportável com a mistura dos cheiros – nem sempre agradáveis.
Longe de ser agradável (e correta) é também nossa preocupação com o meio ambiente. Perceba como estamos à frente do nosso tempo: qual outra população joga o coco verde pela janela do ônibus, senão para garantir à geração futura o plantio de coqueiros firmes e fortes? O nosso amor ao próximo, então… Você sabia que jogamos lixo no meio da rua para garantir o emprego dos garis? Boatos que essa profissão não existiria se sempre guardássemos o lixo com a gente para jogar na lixeira depois.
Há boatos também de que “em Belém não tem nada para fazer” (sic) e nem bons lugares para visitar… Errado. Quer um lugar legal para levar a/o crush? A Praça da República é uma boa pedida. Não existe nada mais romântico do que ficar sentado em um banco quebrado que te obriga a ficar mais e mais próximo com a sua alma gêmea. Também dá para admirar a vista ao redor dentro de um dos coretos, mas antes de entrar é preciso pedir permissão aos que fizeram deles a sua morada. Se durante o passeio houver um tempinho para sacar o celular outrora escondido, você pode fazer uma parada no Bar do Parque, evitando consumir algo no local bem menos acessível à maioria da população.
É, caro leitor, assim como a qualidade do novo asfaltamento da Almirante Barroso, nada dura para sempre. Belém talvez sim, mesmo com o processo de erosão em alguns de seus distritos ser cada vez mais visível e preocupante – quem se preocupa, ama, lembremos disto. Se você se sentiu incomodado ao ler este panoramas de problemas, parabéns! Talvez você ainda tenha algum bom sentimento em relação a Belém. Mesmo que a capital paraense tenha inúmeros atrativos, uma história riquíssima e potencialidades ainda pouco ou quase nada exploradas, sabemos que o que parece ser cada vez mais sua “marca” são seus problemas, ora causados pela inoperância da prefeitura, ora (ou em conjunto) pelo desamor e descaso da população. Não é difícil notar, assim, seus erros e problemas que devem ser melhor observados para que as soluções corretas sejam dadas. Sem precisar ser formatada, Belém pode ser atualizada e, então, deixar – finalmente – para trás os erros 404.
Texto: Fernanda Palheta
Edição: Enderson Oliveira