O novo superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é Rafael Angelo Juliano, dono da empresa Amazônia Florestal Ltda, a qual responde a processos por questões ambientais na Justiça estadual e federal. Ele é apadrinhado político do senador pelo Pará, Zequinha Marinho, do Partido Liberal (PL), mesma sigla do presidente da República.
A perda de cobertura vegetal da Amazônia é uma preocupação para o mundo, principalmente, pelos riscos e impactos climáticos que vêm sendo amplamente divulgados com temor pela comunidade científica. Não por coincidência, nos anos do governo do presidente Jair, Bolsonaro o desmatamento piorou, como provam os dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que mostra que a região teve em 2021 seu pior ano em uma década.
A instituição apontou que foram destruídos 10.362 km² de mata nativa nos 12 meses do ano passado. As dimensões assustam e equivalem à metade do Estado de Sergipe. No ano anterior, 2020, o desmatamento já havia ocupado a maior área desde 2012, com 8.096 km² de floresta destruídos. A comparação entre os dois anos observados aponta que a perda de floresta é 29% maior, de acordo com os números mais atuais.
Parte desse imenso problema vem de uma política desrespeitosa e descomprometida com as questões ambientais – para dizer o mínimo. A ponta dessa gestão danosa às florestas também é mostrada pelo aparelhamento nos órgãos cuja competência é fiscalizar e proteger as florestas, dentre os quais um dos mais importante é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama.
Neste momento, uma das frentes importantes do Instituto, a Superintendência do Pará, está sob risco iminente com uma indicação para lá de controversa. A Portaria Nº 88, publicada na terça-feira (29) com assinatura do ministro do Meio Ambiente e concordância do presidente Jair Bolsonaro, nomeia Rafael Angelo Juliano para exercer o cargo em comissão de superintendente da seção paraense.
Rafael Angelo Juliano é dono da empresa Amazônia Florestal Ltda, que responde a processos na Justiça estadual e federal, cujas partes envolvidas são o próprio Ibama; o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que cuida das unidades de conservação federais no país; o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), com ação civil pública para revogar a Concessão de Licença Ambiental, em área de Itaituba; e associações indígenas ameaçadas pela serraria de propriedade do novo superintendente.
O grande padrinho Zequinha Marinho
Como em política nada cai do céu e, como diz o ditado antigo, “jabuti não sobe em árvore”, alguém indicou Rafael Angelo Juliano para ser o número um do Ibama no Pará. Negociado não se sabe em quais termos, o acordo para colocar o madeireiro implicado em problemas de ordem ambiental na Justiça tem a benção do senador pelo Pará, Zequinha Marinho, do Partido Liberal (PL), a mesma sigla que abriga Jair Bolsonaro.
Não é novidade que Zequinha Marinho é um árduo defensor de setores que estão diretamente ligados ao desmatamento na Amazônia, com grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegal. No dia 6 de fevereiro, o Dol apontou que o senador publicou um vídeo ao lado do suposto grileiro Jassonio Costa Leite para criticar uma megaoperação do Ibama de combate ao desmatamento. Jassonio é considerado o “maior grileiro da Amazônia” e foi autuado pelo desmate de 21,1 mil hectares e é acusado de ser um dos responsáveis pela grilagem na Terra Indígena Ituna Itatá, em Senador José Porfírio.
O jornal O Estado de S. Paulo revelou, em abril de 2021, que Jassonio tem estreitas relações com políticos em Brasília, frequenta gabinetes no Congresso e é apoiador do presidente Jair Bolsonaro. No vídeo do Estadão, é possível ver Marinho em defesa de direta de Jassonio, que posa ao seu lado. O senador diz que quer embargar as ações do Ibama, hoje com a superintendência ocupada por um dos seus apadrinhados políticos, Rafael Angelo Juliano.
DOL