Fé e esperança renovam compromisso com a vida na luta contra a covid-19.

Em hospitais e demais unidades de saúde, profissionais da linha de frente buscam apoio espiritual e emocional para enfrentar o inimigo invisível

Diante de um vírus novo e de uma doença ainda sem cura, não há equipe médica que, após cuidar de tantas pessoas, também não precise de ajuda. De luvas, máscaras e todo o aparato de segurança – antes, durante e ao fim de cada plantão -, o pedido de força, de esperança e de dias melhores para todos se renovam. Já virou rotina nas unidades de saúde e nos hospitais os momentos em que, aqueles que cuidam dos doentes, se unem para cuidar uns dos outros. Por meio de correntes de oração, mensagens em grupos de WhatsApp estimulando colegas à resiliência e tantos outros momentos de apoio mútuo, um sentimento coletivo predomina: a fé de que tudo isso vai passar.

Coordenador de contingência da Policlínica Metropolitana, que há duas semanas recebe pacientes com sintomas leves da Covid-19 para exames e consultas, o médico Sipriano Ferraz confirma que a hora de revisar o que precisa ser corrigido em relação às ações do dia anterior, e também de planejar o novo dia, também se transformou em um momento de maior união entre as equipes. “Costumamos puxar um Pai Nosso, uma Ave Maria antes de iniciar o trabalho. Mas em um dia muito pesado, em que fizemos esse momento ao som de Noites Traiçoeiras, todos se emocionaram muito e foi importante para todos”, conta ele, que coordena um grupo de 22 médicos da linha de frente e outros seis médicos gestores. 

Emocional e espiritual – A enfermeira intensivista Gisella Fernanda participou de uma corrente de oração que, filmada, viralizou na internet na semana passada. Segundo ela, no Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), onde atua, esses momentos ocorrem de forma coletiva e individual. “Em cada entubação a gente faz uma oração, pede por aquele paciente, para que haja uma intercessão em cada procedimento. Esse vídeo mostra bem um pouco de tudo que estamos passando, o quanto o emocional e o espiritual precisam estar alinhados com nossos cuidados”, diz a enfermeira. “A fé é primordial para quem está na linha de frente”, ressalta.

Ane Segovia, que coordena o setor de Enfermagem do HRAS, também busca esse conforto com os colegas. “Nesse momento atípico, em que combatemos um inimigo invisível, não deixamos de confiar e acreditar em uma força invisível, que se torna visível em cada paciente recuperado”, declara, sem conter a emoção. “Cremos em dias melhores e que tudo vai passar. É o que nos faz prosseguir”, afirma Ane Segóvia.

A equipe multiprofissional também contribui nesse reforço para os que estão na batalha diária por inúmeras vidas. A fonoaudióloga Luana Seguin, em mensagem enviada aos grupos dos colegas da saúde, estimula a ênfase na fé. “Nas forças que vocês precisam para cuidar de tantas pessoas que precisam, mesmo nos momentos de extremo cansaço”, encoraja.

Para centenas de profissionais que lutam contra o Coronavírus, a fé traz o equilíbrio necessário para ir em frente

Para a fisioterapeuta Karoline Queiroz, a união pode não acabar com o medo, mas faz com que esses profissionais não percam a coragem de continuar. “Acima de tudo sempre há algo ou alguém ao nosso lado, nos sustentando e dando força. O nome disso é fé, é amor ao próximo, é empatia, é não perder a esperança. É o que nos sustenta”, acredita Karoline Queiroz. 

Malu Oliveira coordena a equipe multiprofissional do “Abelardo Santos”, que conta ainda com psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. “Estamos sentindo medo, tristeza e angústia. Mas isso é normal por sermos humanos. Peço que não desanimem e não percam a fé, desde as equipes do administrativo, da limpeza, da alimentação, até os médicos, porque a gente vai passar por isso junto”, acredita.

“Blitz da Oração” – Essa onda de boas energias também vem de fora dos hospitais. Desde o início do isolamento social, membros da Igreja Batista Angelim fazem a “Blitz da Oração” uma vez na semana, parando por alguns minutos em frente a hospitais, prontos-socorros e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). De dentro dos carros, ou às vezes em pé do lado de fora, usando máscaras e luvas, eles fazem uma corrente de orações direcionadas aos profissionais de saúde, demais funcionários e internados.

“É muito emocionante, porque às vezes vemos pacientes indo às janelas das enfermarias, e eles acendem a luz do celular, fazem um sinal, interagem em agradecimento. É indescritível. Isso acontece também com os maqueiros, com os familiares que estão na porta em busca de atendimento, enfermeiros que baixam a cabeça e recebem aquela intenção”, relata o pastor Marcelo Carvalho, que coordena a ação. “Naquele momento, pedimos pela capacitação daqueles profissionais, ministramos amor. Queremos que saibam que, do outro lado, há um povo que se importa e torce em oração”, garante o religioso.

Por Carol Menezes- Agência Pará | Fotos: Marcelo Seabra.