Ministério da Saúde não vê razões para Zenaldo decretar emergência em Belém.

Após o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, ter anunciado, na noite de ontem, que decretaria situação de emergência na capital por conta do coronavírus, incluindo no rol de proibições a realização de eventos com aglomeração de pessoas, incluindo shows e jogos em estádios de futebol, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, publicou um vídeo explicando que o prefeito e seu staff fizeram uma interpretação errada do último Boletim Epidemiológico emitido pelo órgão, deixando claro que as medidas extremas, como a suspensão de eventos desse porte, seria aplicada apenas onde haveria a transmissão local do Covid-19.

“Assisti o vídeo do prefeito de Belém falando em cancelamento de eventos de massa e me estranhou porque vocês não estão nem com transmissão sustentada, nem tem uma situação como está tendo em outros estados e municípios. É uma medida desproporcional. Creio que houve uma interpretação equivocada do texto. Hoje (ontem) tentamos deixar mais claro, mas pra facilitar a compreensão de todos vou ajustar o boletim. Vamos revisar que os eventos de massa somente serão revistos onde tem transmissão local. Reitero que não indicamos o cancelamento dos eventos como regra geral, orientamos que nos municípios façam a revisão. Como o texto ficou dúbio estamos ajustando. Da mesma maneira estamos retirando a recomendação referente a navios de cruzeiro para discutir melhor com o Ministério do Turismo”, declarou o secretário.

Antes do pronunciamento, a Prefeitura Municipal de Belém (PMB) informou que publicará um decreto para suspender eventos de massa marcados para a capital, como prevenção ao coronavírus. A informação foi publicada no Instagram do Prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho.

De acordo com a postagem do prefeito, o decreto atenderia a recomendação do Ministério da Saúde para que medidas de proteção sejam aplicadas em todo Brasil contra o vírus Covid-19, interpretação rotulada como equivocada logo depois pelo próprio Ministério. O prefeito não anunciou quando o decreto será publicado, mas a assessora informou que deve ser na próxima segunda-feira (16).

Em nota, a PMB afirmou que o texto a ser anunciado ainda seria editado. Se já estivessem em vigor, as medidas poderiam influenciar em eventos do final de semana, como os jogos do Parazão e shows de artistas nacionais e locais. O documento restringiria eventos públicos como shows, eventos esportivos, religiosos, entre outros que haja aglomeração de pessoas. O MS atualizou no fim da noite de ontem o seu Boletim, e hoje a Prefeitura deve se posicionar se a situação de emergência ainda será decretada.

Dada a gravidade da situação causada pelo vírus Covid 19, conhecido como Novo Coronavírus, editamos um decreto municipal com medidas emergenciais para evitar que a doença se espalhe em nossa capital. Entre as medidas, está a suspensão de todos os eventos de massa previstos para os próximos dias na cidade.

Sabemos que a medida é severa, mas foi tomada seguindo determinação da Secretaria de Saúde do Ministério da Saúde através do Boletim Epidemiológico 05 de 13/03/2020.

Pedimos a compreensão de todos. O momento é de pensarmos no bem comum e de lutar para garantir a saúde de toda a nossa população.

Após a situação, o Ministério da Saúde editou o texto do documento. Veja na íntegra:

“Com base nas sugestões recebidas pelos Estados, Municípios e identificação de pontos para aprimoramento detectados na coletiva, para melhorar a compreensão das medidas, algumas alterações foram realizadas para reedição do texto:

Isolamento voluntário: recomendação excluída para revisão técnica dada a sugestão de dificuldade operacional de implantação;

Cruzeiro turístico: recomendação retirada para revisão e ajuste, considerando a necessidade de diferenciação entre os cruzeiros em trânsito, dos cruzeiros que ainda não iniciaram e que podem atuar como ambiente de risco durante o período de maior transmissibilidade da doença, podendo conferir risco aos passageiros em alto mar. Deste modo, essa recomendação será revista para tornar o texto claro e garantir os direitos e segurança dos consumidores.

Eventos de Massa: ajuste no texto e mudança para o bloco de Transmissão Local”

BALANÇO

O último balanço do Ministério da Saúde informou que subiu para 98 o número de casos confirmados do novo coronavírus Sars-CoV-2 no Brasil. Até esta quinta-feira (12), eram 77 casos. Segundo o ministério, também já há registro de transmissão sustentada do vírus em duas capitais: São Paulo e Rio de Janeiro.

Em São Paulo, a confirmação da doença em um casal fora da capital paulista e sem contato com pacientes com exame confirmado mostra que já há transmissão sustentada do vírus, informou nesta quinta o coordenador do comitê de emergência do estado, David Uip.

Em outras regiões, autoridades já se preparam para um forte aumento nos registros nos próximos dias. Segundo o ministério, o número de casos pode ser maior, já que mais estados podem ainda atualizar registros no sistema. Ao menos 1.485 pacientes atendidos na rede de saúde aguardam resultado de exames. Outros 1.344 tiveram o diagnóstico descartado para a Covid-19.

NOS ESTADOS: CASOS CONFIRMADOS

Com a atualização dos números, já são 13 estados com casos confirmados. O maior número ocorre em São Paulo, com 56 registros. Em seguida, estão Rio de Janeiro (16), Paraná (6), Rio Grande do Sul (4), Goiás (3), Santa Catarina (2), Bahia (2), Minas Gerais (2), Pernambuco (2), Espírito Santo (1), Alagoas (1), Rio Grande do Norte (1) e Distrito Federal (2).

Proximidade se torna a maior rota do vírus

Com a transmissão do coronavírus acontecendo de modo sustentado (ou seja, sem depender de casos importados) no Brasil, uma das principais formas de prevenção é evitar aglomerações. Não existe, entretanto, um número mágico de pessoas a partir do qual a situação se torna perigosa. A densidade de indivíduos, a proximidade entre eles, é a variável mais importante, dizem especialistas ouvidos pela reportagem.

“Pelo que estamos vendo, cada pessoa que carrega o vírus é capaz de transmiti-lo para algo entre três e sete outras pessoas, um número mais alto do que se imaginava no começo. É muito importante tentar abaixar essa média, e o elemento que mais estimula a transmissão é o adensamento”, afirma o virologista Paolo Zanotto, da USP. “Dez pessoas a 30 cm uma da outra acabam sendo mais perigosas do que 9 bilhões com um quilômetro de distância entre cada uma delas”, diz.

Considerando o processo de transmissão do vírus, que ocorre, em geral, quando gotículas emitidas por espirros ou tosse atingem outra pessoa diretamente ou caem em superfícies que depois são tocadas por quem ainda não está doente, é possível falar numa distância máxima de três ou quatro metros entre quem tosse ou espirra e os demais presentes num ambiente fechado, afirma Flávio Codeço, biólogo matemático da FGV, no Rio de Janeiro.

“Em ambientes abertos, o vento pode levar as gotículas com o vírus para longe, mas em locais fechados ele acaba perdendo a capacidade de infectar se ninguém tocar as superfícies contaminadas e levar as mãos ao rosto”, explica. “É claro que, quando você tem um número muito grande de pessoas circulando num espaço urbano, a chance de que alguma delas esteja carregando o vírus aumenta, o que faz crescer o risco, mas a proximidade é crucial”. Outras circunstâncias ambientais que podem influenciar o risco da transmissão são menos decisivas. A maioria dos estudos versa sobre os vírus influenza, causadores da gripe, que são transmitidos de modo parecido.

BELÉM

Eles costumam afetar países do hemisfério Norte com mais severidade no inverno, mais frio e, com frequência, mais seco, mas não se pode considerar, por ora, que o calor e a umidade do ar mais elevada atuarão como proteção parcial no Brasil. Em locais como Belém e Fortaleza, por exemplo, é comum a circulação dos vírus da gripe em épocas chuvosas e quentes.

No Sudeste, embora o inverno seja a estação mais importante para o vírus, acaba havendo transmissão o ano inteiro em alguma medida, afirma Codeço. O mesmo vale para a radiação ultravioleta do Sol, que pode inutilizar partículas do vírus, mas não a ponto de minimizar a transmissão de forma significativa, explica o biólogo.

Diante da pandemia do novo coronavírus Sars-CoV-2, com 98 confirmações no Brasil até esta sexta-feira (13), estados suspenderam aulas, anunciaram a compra de mais insumos de saúde e até decretaram situação de emergência, esses últimos casos de Minas Gerais, Goiás e Paraíba. As aulas foram suspensas por 15 dias, a partir de segunda, nas escolas estaduais e municipais do Rio, e de 16 a 20 na rede estadual de Tocantins.

Depois da Unicamp e do curso de história da USP, também houve cancelamento de aulas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio) e UFPR, federais do Rio e Paraná, respectivamente, por 15 dias. Em Goiás, os colégios estaduais seguem abertos, mas a orientação para as escolas é de manterem portas e janelas abertas.

O governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), decretou situação de emergência em virtude dos casos da Covid-19. O estado tem 13,32% de sua população acima de 60 anos, grupo mais vulnerável à doença.

O Rio foi um dos estados com mais medidas anunciadas de combate à disseminação da Covid-19. O governador Wilson Witzel (PSC) determinou a redução de atendimento nas repartições públicas e suspensão de aulas nas escolas públicas e privadas, antecipando por 15 dias o recesso que seria nas férias, podendo ser prorrogáveis. Também por 15 dias estão suspensos eventos esportivos e coletivos e restrição a visitas em unidades penitenciárias, incluindo as íntimas. O transporte de detentos foi igualmente suspenso.

Primeiro paciente a contrair doença no Brasil está curado.

O coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, o infectologista David Uip, afirmou que o primeiro paciente brasileiro a contrair a doença está curado. Trata-se de um empresário de 61 anos que esteve na Itália e que retornou ao Brasil no fim de fevereiro.

Segundo Uip, o indivíduo passou por tratamento no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Não foi divulgado o estado de saúde dos familiares do paciente. Logo que ele retornou da Itália, se reuniu com os parentes na sua casa. Alguns deles, inclusive, chegaram a ser contaminados.

Informações DOL