A derrota do PSOL na última eleição municipal em Belém deixou feridas profundas no partido que, por quatro anos, comandou de forma calamitosa a capital paraense. Fora da prefeitura, sem acesso ao centro do poder municipal e com dificuldades de articulação popular em larga escala, o PSOL agora parece estar em busca de uma nova estratégia para se manter relevante no cenário político do estado. Infelizmente, essa estratégia tem se mostrado mais oportunista do que ideológica, envolvendo a instrumentalização de pautas legítimas e a utilização de movimentos sociais como massa de manobra para atingir a gestão do governador Helder Barbalho.
Recentemente, as pautas indígenas ganharam destaque com a ocupação da Secretaria de Educação do Estado (SEDUC) por representantes de comunidades que, com razão, demandam melhorias nas políticas públicas voltadas à educação. Essa é uma causa nobre e urgente. No entanto, o que se viu por trás desse movimento foi a mão invisível de um PSOL que busca transformar questões legítimas em palanque político. Em vez de atuar como mediador ou apoiador sincero das demandas desses povos, o partido enxerga os movimentos sociais como um instrumento para atingir adversários políticos, neste caso, o governo estadual.
Essa postura é indissociável da histórica relação entre o PSOL e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Estado do Pará (SINTEPP), entidade que há muitos anos é comandada pelo partido, especialmente pela tendência Ação Popular Socialista (APS). O coordenador geral do SINTEPP, Beto Andrade, figura influente da APS, esteve à frente dos incentivos à ocupação da SEDUC desde o início, evidenciando a conexão direta entre o sindicato, as ações do partido e a estratégia de confronto político.
A deputada estadual Lívia Duarte, também do PSOL, escancarou a politização da ocupação ao publicar em suas redes sociais uma foto em que aparecem pessoas deitadas em redes durante a mobilização na SEDUC. Talvez sejam as mesmas redes nas quais a deputada e seus companheiros de partido, como a vereadora de Belém, Vivi Reis, hibernaram durante os quatro desastrosos anos da gestão de Edmilson Rodrigues na capital paraense. Enquanto a cidade sofria com problemas de saneamento, transporte e saúde pública, o PSOL parecia paralisado, incapaz de responder às demandas da população. Agora, a mesma inércia parece se traduzir em uma tentativa desesperada de retomar relevância política, ainda que às custas de pautas legítimas e do esforço alheio.
A gestão do governador Helder Barbalho, embora não isenta de críticas, tem sido reconhecida por sua capacidade de articulação e implementação de políticas públicas em diversas áreas. As críticas legítimas são bem-vindas em qualquer democracia, mas elas precisam ser feitas de forma construtiva, sem que movimentos sociais e sindicatos sejam usados como escudos para interesses partidários. Quando o PSOL incentiva mobilizações desse tipo, ele não apenas deslegitima as pautas que diz defender, mas também enfraquece o diálogo entre a sociedade civil e o governo.
Ao “atirar pedras pelas mãos alheias”, o PSOL reforça uma prática que tem sido criticada em sua trajetória: o uso de embates artificiais para mascarar sua dificuldade de apresentar projetos consistentes e uma oposição qualificada. É possível ser oposição de forma ética, sem transformar causas nobres em palanques. Os povos indígenas e os trabalhadores da educação não podem ser tratados como ferramentas em disputas políticas. Suas lutas transcendem partidos e governos e devem ser respeitadas por todos.
Se o PSOL deseja reconquistar protagonismo no cenário político paraense, precisa repensar suas estratégias. O tempo de manipulação e polarização precisa dar lugar ao diálogo, à construção de consensos e ao respeito pelas demandas populares. O Pará merece uma oposição que contribua para o avanço do estado, e não uma que transforme pautas legítimas em instrumentos de uma política mesquinha e fracassada.