Desde o último domingo, 14 de fevereiro, entrou em vigor, em todo o Estado do Pará, a Lei 8.902/19, que obriga os estabelecimentos comerciais passarem a usar sacolas de material biodegradável, oriundo de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar.
As empresas estão proibidas de distribuir gratuitamente ou comercialmente, e até de usarem os sacos plásticos descartáveis, compostos por materiais polietilenos (produto derivado do petróleo), polipropilenos ou similares. As pessoas são estimuladas a levarem suas sacolas retornaveis aos supermercados e feiras. As únicas sacolas plásticas que ainda são permitidas nos ambientes comerciais são confeccionadas em material biodegradável.
A intenção da Lei é promover uma nova cultura ambiental na sociedade. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a poluição causada pelo descarte de objetos de plástico é um dos grandes desafios da atualidade. A sacola plástica, ao ser descartada de maneira inadequada, provoca sérios prejuízos ao meio ambiente, contribuindo para o entupimento de drenagem urbana, poluição de cidades, rios, lagoas, mar, provocando inundações, e quando se desfaz em pequenas partículas é ingerida por tartarugas, peixes e outros animais marinhos, provocando a morte.
“A sacola plástica é apenas uma ponta do iceberg. Existem ainda muitos plásticos que acabam degradando também o meio ambiente. Mas esse já é um grande passo em direção à mudança de consciência. A pessoa vai ao supermercado e não vai mais encontrar aquele monte de sacola à vontade para levar suas compras, ela vai começar a perceber o quanto é importante a questão ambiental”, afirma Débora Baía, gestora ambiental e catadora.
Débora preside a Concaves, Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis. São 40 cooperados, que dependem diretamente da renda gerada pelos materiais recolhidos. Eles trabalham com educação ambiental, coleta seletiva, e destinação adequada dos materiais recicláveis.
Em 2015 houve um edital de chamamento público, e foi firmado um contrato com a Prefeitura de Belém para a cooperativa realizar a coleta seletiva no bairro de Nazaré. Depois a parceria foi estendida a outros bairros, como Umarizal, Cremação e Terra Firme.
“A vantagem dessas novas sacolas é que elas são biodegradáveis. Mesmo elas chegando ao meio ambiente, são menos nocivas. Quem ainda tiver sacolas plásticas estocadas, pode doar para a nossa cooperativa e vamos enviá-las para a reciclagem. Elas vão deixar de ir pros mares e esgotos e esse, sem dúvida é um impacto positivo”, reforça Débora. Para fazer a destinação adequada das sacolas plásticas, é só entrar em contato pelo 91 988287636 ( wsapp).
Tijolos de plástico
Belém gera em torno de 200 toneladas de plástico por dia. Desse volume, apenas 2,8% são aproveitados. Do plástico que chega dentro de uma cooperativa, cerca de 20% acaba voltando para o lixão. Os dados são do engenheiro civil Marcos Sousa, 35 anos.
Em 2016, a partir de um Trabalho de Conclusão de Curso em uma universidade particular de Belém, ele criou o projeto Seixos de Plástico. A alternativa é desenvolvida de forma inédita no Brasil e ajuda a minimizar os impactos ambientais trazidos pelo plástico.
A startup (termo que designa pequena nova empresa oferecendo produto novo) desenvolveu uma metodologia própria para produzir tijolos, broquetes, tubos, blocos com e sem função estrutural, telhas, entre outros produtos comumente derivados do concreto, a partir do reaproveitamento de diferentes resíduos sólidos, em especial plásticos e vidros.
Instalada no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT), a startup Seixo de Plástico oferece a possibilidade de aproveitar qualquer tipo de plástico às cooperativas, inclusive os que não têm valor econômico, por conterem diferentes camadas de materiais ou impurezas.
“Além da questão ecológica, com os materiais de construção de plástico você oferece economia e versatilidade. Pelo fato de os materiais serem mais leves do que os comuns (50% a menos), diminui-se consideravelmente o consumo de materiais e o tempo de execução da obra também é menor”, destaca o engenheiro Marcos, um dos inventores da tecnologia e sócio da Seixo de Plástico.
O projeto está sendo implantado no próprio PCT, com a construção de uma casa modelo utilizando esses materiais. A previsão para a conclusão da obra é final de abril.
“Já temos uma estrutura de produção piloto e a intenção é que ela esteja disponível, ainda este ano, em diferentes bairros de Belém, e até em municípios, para dar uma destinação socialmente responsável para esses resíduos de plástico”, informa o presidente do Parque Tecnológico, Rodrigo Quites.
Cooperação tecnológica
No último dia 10 de fevereiro, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, fez uma visita inédita ao Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. Em 10 anos de existência, essa foi a primeira vez em que o único parque tecnológico da Amazônia, que conecta pessoas e empreendimentos, recebeu a visita de uma prefeitura.
A visita contou também com a presença do vice-prefeito de Belém, Edilson Moura, e gestores de diversas secretarias. De acordo com Edmilson Rodrigues, as secretarias presentes ao encontro vão avaliar o que pode ser feito junto ao PCT Guamá, para que um termo de cooperação seja firmado em breve.
Quem deve ganhar com isso é a população de Belém, inclusive em uma questão muito debatida na última semana: a do meio ambiente.
A partir da visita da Prefeitura ao PCT, abriu-se um leque de possibilidades de parcerias que podem facilitar a vida do cidadão. “Todos saíram ganhando com essa visita. Até nós. A Secretaria Municipal de Saneamento ( Sesan), a partir da nossa demanda, já esteve aqui ontem para começar a cuidar de um córrego de separação entre o Parque e a Via Perimetral. Esse córrego estava completamente abandonado e estamos muito felizes com a sua limpeza. O prefeito veio aqui e enxergou nossas necessidades e potencial, no sentido de identificar possibilidades de realmente trazer soluções inteligentes para Belém”, acentua Rodrigo Quites.
Informações Agência Belém | Foto: João Gomes