Um evento no qual amazônidas falarão de dentro da região o que querem e precisam para si mesmos e para o seu próprio futuro, para o mundo. Esse aspecto, na avaliação do prefeito Edmilson Rodrigues, é o mais relevante da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que ocorrerá em Belém, em novembro de 2025.
Arquiteto e urbanista, especialista em Desenvolvimento de Áreas Amazônicas, Mestre em Planejamento do Desenvolvimento e Doutor em Geografia Humana, Edmilson foi eleito em 2021 prefeito de Belém pela terceira vez e terá a responsabilidade de estruturar a capital para receber o evento mais importante do mundo sobre clima.
Para isso, o prefeito – que também é vice-presidente da região Norte da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) – contará com o apoio decisivo do governador Helder Barbalho e do presidente Lula em projetos e iniciativas fundamentais que vão mudar a infraestrutura urbana de Belém nos próximos 30 meses até a data de realização do evento. “Vamos nos apaixonar e fazer com que os que vêm de fora se apaixonem por nós e pela nossa cidade, e isso em termos de legado não tem preço”, garante Edmilson, que fala, a seguir, de que forma Belém se prepara para receber a conferência internacional:
P – Belém estará pronta até lá para receber o evento?
R – Estou plenamente convicto que sim. Estaremos prontos para impressionar e emocionar primeiramente os belemenses e os visitantes de outros Estados e países. E essa convicção vem do fato que não estou só, mas acompanhado e com o apoio do governador Helder Barbalho e com o presidente Lula e seus Ministros, entre eles o paraense Jader Barbalho Filho, Ministro das Cidades. Estamos construindo uma sinergia como expressão do amor por Belém, tendo a consciência que esse evento tem uma importância tão grande para a humanidade que todos os que estão investidos de um cargo público e têm o compromisso com um futuro climático mais justo, com o equilíbrio ecológico e democrático darão as mãos para fazer da COP aqui uma das maiores já realizadas e um evento mundial inesquecível e marcante em todos os sentidos da conferência.
P – De imediato a prefeitura deverá equacionar que tipos de problemas? Quais os principais gargalos? Há muitos anos Belém sofre com um transporte público precário. Como isso será equacionado?
R – Como integrante da Frente Nacional de Prefeitos, estamos negociando para que o governo federal incorpore o projeto da criação nacional de um sistema nacional de mobilidade urbana como hoje existe em países como Itália e Espanha, onde existe uma contrapartida de 75% da tarifa como participação dos governos nacionais e estaduais.
No Brasil, os municípios andam sozinhos, mas aqui em Belém já avançamos bastante junto ao governo federal com a ajuda do governo do Estado e posso te dizer que muito em breve a prefeitura, o governo do Estado e setor patronal de transporte urbano irão anunciar um acordo inédito para modernizar o sistema, garantir financiamento e dar a Belém um sistema de transporte verdadeiramente digno, acabando com esse gargalo histórico, com modernização da frota, melhoria do sistema, ônibus elétricos e veículos refrigerados. Não queremos apenas receber bem os empresários multinacionais, os presidentes da França e dos Estados Unidos e os sheiks árabes, mas, principalmente, queremos que a COP 30 deixe um legado permanente à nossa população.
P – Há anos a região metropolitana pena com a gestão de resíduos sólidos, desde a coleta até a destinação final, hoje feita no aterro sanitário de Marituba. É um problema urgente que precisa ser equacionado. Como a cidade vai superar isso?
R – Há um acordo formalizado entre prefeitura e governo do Estado para lançar dentro de poucos dias um edital para a criação de uma nova política de resíduos sólidos para Belém, com a instalação de contêineres para a coleta seletiva e reciclagem de lixo. O lixo orgânico será levado para um verdadeiro aterro sanitário, não como esse instalado em Marituba que se transformou num lixão a céu aberto, que criou graves problemas sanitários que prejudicaram seriamente a população do entorno.
P – Dentro desse contexto, como fazer que Belém consiga reestruturar seu sistema de saúde e também possa receber bem quem vier a Belém durante a COP e, é claro, os seus moradores?
R – Apresentamos um relatório ao Ministério da Saúde mostrando que de 2014 para cá os recursos de saúde para Belém vêm sendo reduzidos gradativamente. Perdemos cerca de R$ 92 milhões ao ano. Essa é a realidade que foi reconhecida pelo Ministério e que pelo menos R$ 62 milhões nós temos direito e isso significa dizer que termos nossos serviços credenciados. Numa parceria com o Estado, recebemos R$ 30 milhões e vários deputados federais apresentaram emendas para a saúde municipal, incluindo parlamentares que não são de esquerda. Ainda este ano vamos resgatar o nosso sistema público municipal de saúde.
P – Quais são os projetos da prefeitura em termos de infraestrutura urbana que estarão prontos até o segundo semestre de 2025? Projetos como a requalificação do Mercado de São Brás e a reforma completa do Ver-o-Peso, cartões-postais da capital estarão prontos?
R – Existe uma comissão tripartite formada por integrantes da prefeitura de Belém, governo do Estado e governo federal reunindo aqui e em Brasília que definiu oito projetos como prioritários, sendo dois sob a responsabilidade do governo federal; dois do Estado e outros quatro pela prefeitura. Caberá à União capitanear a ampliação do terminal do aeroporto internacional de Belém que receberá centenas de aeronaves trazendo turistas e conferencistas do mundo inteiro para a conferência.
Vai também desaçorear o canal do porto de Belém para que os grandes navios que também trarão milhares de delegações possam ser ancorados e que também funcionarão como hotéis como vimos nas últimas COPs. Belém conta hoje com 36 mil unidades em hotéis e que não pode ser suficiente para abrigar todos que virão. Estarei nos próximos dias conversando com o presidente do BNDES, Aloísio Mercadante, e com o superintendente da Sudam, Paulo Rocha, na busca por recursos para requalificação da nossa rede hoteleira. Ao governo do Estado caberá finalizar o Parque da Cidade e o Porto Futuro II, que terá sete galpões para ampliar o terminal hidroviário, e a Estação das Docas.
À Prefeitura caberá finalizar o Mercado de São Brás, cujas obras já iniciaram, e reformar o Ver-o-Peso, projeto que também será feito em parceria com o Estado, já que em comum acordo decidimos incluir no projeto o Mercado de Ferro de Carne, que se transformará num grande centro de gastronomia da cidade, inclusive como uma escola.
Faremos também uma revitalização no centro histórico da cidade, abrangendo João Alfredo e Santo Antônio, vias que serão incluídas como parte do complexo do Ver-o-Peso. Outra obra importante que faremos será a duplicação a Estrada Nova, que também será prioridade, ligando a Cidade Velha ao Jurunas até o portão da UFPA. Há também a revitalização do Igarapé de São Joaquim. Esses dois últimos projetos, já em licitação, faremos em parceria com o Ministério das Cidades.
P – A COP será melhor que Copa do Mundo que não conseguimos trazer para Belém? Em que sentido?
R – A conferência é muito mais importante porque reunirá 193 países que compõem a cúpula da ONU para as mudanças climáticas. Em todas as COPs não se deixa de destacar a importância da nossa Amazônia para o clima no mundo. A COP 30 debaterá o futuro do planeta a partir da Amazônia. Agora não ouviremos líderes e personalidades de fora falando o que devemos fazer. Nós, amazônidas, é que falaremos daqui, de dentro da Amazônia, o que queremos e precisamos para nós e para o nosso futuro.
P – Há muitos anos que Estado e prefeitura não trabalham juntos como agora, o que vem se refletindo na melhoria da infraestrutura da cidade. Qual a importância dessa sintonia?
R – A parceria com o Estado salvou vidas e restaurou a dignidade dos cidadãos de Belém. Na pandemia, se não houvesse um intenso diálogo com o governador, centenas de vidas seriam perdidas. Tenho orgulho de dizer que durante a pandemia ninguém se foi em função de qualquer atrito entre prefeito e governador seja por que motivo for. Em Belém não deixamos ninguém morrer sem assistência e o diálogo com o governador foi fundamental para isso, como também será agora para preparar a cidade para receber a COP 30 em inúmeras frentes.
P – Belém terá um legado real da COP 30?
R – Ao final desses 30 meses que temos pela frente, vamos deixar um legado para Belém em termos de infraestrutura urbanística, portuária, turística e paisagística muito importante que vai para muito além do evento. Serão feitos investimentos pesados na cidade, mas, principalmente tendo como foco principal as pessoas, os moradores.
Nossos taxistas vão aprender noções de línguas e de costumes de outros países, nossas tacacazeiras vão aprender a servir o seu tacacá e a sua maniçoba de outras maneiras; nossos guias turísticos vão enriquecer seus conhecimentos e cultura com os que vierem de fora. Vamos nos apaixonar e fazer com que os que vem de fora se apaixonem por nós e pela nossa cidade e isso em termos de legado não tem preço. Vamos enriquecer e impulsionar como nunca a nossa indústria turística para gerar ainda mais emprego e renda para a nossa população.
Investir no turismo gastronômico e ecológico será a nossa grande cartada econômica. Levaremos as pessoas de barco para o Combu, para a nossa floresta e lá fazer com que provem a nossa caldeirada regional, o nosso peixe no tucupi, o açaí tirado na hora da palmeira e o chocolate in natura produzido pelos que moram lá, em Mosqueiro, em Icoaraci, em Outeiro e nas outras ilhas de Belém. Com o apoio do governador Helder e do presidente Lula, Belém vai entrar em outro patamar em 2025.
Por Luiz Flávio | DOL