Com UPAs superlotadas, Hospital Abelardo Santos é o único refúgio na capital.

Em menos de 24 horas, o Hospital Regional Abelardo Santos (HRAS) atendeu 1.200 pessoas com sintomas de Covid-19 e síndrome respiratória aguda grave, na capital. Ontem, o local era praticamente a única unidade em que os moradores da Grande Belém podiam recorrer para conseguir atendimento de emergência de casos desta doença, que já provocou a morte de pelo menos 235 pessoas no Pará, segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública. Quem procurou pelo serviço nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Prontos-Socorros Municipais deu com a cara na porta e foi orientado a procurar outros lugares ou o Abelardo Santos, em Icoaraci. Nem mesmo uma vítima de acidente leve de trânsito conseguiu ser atendida na UPA da Terra Firme.

O HRAS funciona como uma espécie de pronto-socorro para atendimentos exclusivos da infecção provocada pelo novo coronavírus, desde a última quinta-feira (30), por decisão do governador do Estado Helder Barbalho, que alterou o perfil do hospital para garantir que a poulação receba atendimento emergencial, já que a Saúde na capital vive um verdadeiro colapso. Em comparação com a véspera, o movimento ontem era menor, apesar de intenso. De carro ou a pé, pacientes chegavam a todo minuto, muitos com aparência debilitada e falta de ar.

TRIAGEM

Enfermeiras e técnicas de enfermagem faziam a triagem de pacientes ainda no portão, verificavam a temperatura e com um oxímetro também mediam o nível de oxigênio no sangue das pessoas. Essa avaliação preliminar é importante para separar os casos mais graves dos leves e fazer o atendimento no menor tempo. Familiares de pacientes ficavam na frente do hospital à espera de informações. No hospital entra somente um acompanhante. Enquanto os atendimentos no Hospital Abelardo Santos eram realizados, as pessoas que recorriam às UPAs de Belém peregrinavam para conseguir ajuda.

Zenaldo recebeu milhões do Governo Federal e deixou a saúde de Belém entrar em colapso.

O sistema de saúde do Município de Belém está em colapso.  A situação foi reconhecida pela própria Prefeitura ontem (20), através de nota divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), em que afirma que não possui mais leitos de UTI para atender pacientes com Covid-19 nas unidades de pronto atendimento. De acordo com a Sesma, o município possui 125 leitos de UTI e 1.118 de enfermaria, além de 90 leitos de observação nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Como também o fechamento de alguns desses hospitais públicos.

Outro ponto crítico que atinge a saúde na capital é a situação do Pronto Socorro da 14 de Março e da UPA da Marambaia que estão fechadas por falta de médicos.

61 MILHÕES

As ações anunciadas nesta tarde por Zenaldo vêm em meio a constatação de que Belém já recebeu R$ 61 milhões do governo federal para combater a covid-19.

O anúncio de Zenaldo veio um dia após a Procuradoria Geral do Estado (PGE) ter entrado com liminar exigindo o fechamento total de atividades não essenciais na Região Metropolitana de Belém.

Transparência do Governo Federal mostram que a Prefeitura Municipal de Belém (PMB) recebeu nesses últimos meses, R$ 61.4 milhões de crédito extraordinário do Ministério da Saúde para promover ações de enfrentamento de emergência mediante a crise do novo coronavírus.

Esse dinheiro entrou direto nos cofres da Prefeitura à título de custeio, ou seja, para o desenvolvimento específico de ações e serviços de saúde nessa que está sendo conhecida como a pior crise global registrada desde a Segunda Guerra Mundial. Mas o que se viu foi a fragilidade do sistema de saúde municipal, que entrou em colapso logo nos primeiros dias de agravamento da crise, que ainda não alcançou, segundo especialistas em saúde, sua fase mais grave.

INFORMAÇÕES

O próprio Ministério Público Federal (MPF) solicitou informações ao gabinete do prefeito Zenaldo Coutinho sobre as razões que já davam sinais de um colapso prematuro do sistema de saúde da capital paraense.

“Desde a semana passada há notícias de pessoas não conseguindo atendimento em unidades de saúde e hospitais, com pelo menos três casos de moradores que morreram em casa ou em seus carros depois de terem o atendimento recusado”, disse a nota divulgada pelo MPF no início da semana passada.

Mas será que o colapso no atendimento da saúde pública municipal acontece por falta de recurso? Não é o que apuramos junto ao portal do Fundo Nacional de Saúde, gestor financeiro dos recursos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS), na esfera federal.

Os dados apurados mostram que, somente no ano passado, também para custeio e para investimento, a Prefeitura de Belém recebeu R$ 1 bilhão para custear seu sistema de saúde, sendo R$ 462 milhões para vigilância em saúde; atenção básica; atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar; entre outras.

O valor disponível por ano para os investimentos em saúde pública por habitante do município de Belém é de R$ 688,04, segundo mostra o aplicativo “Onde está o dinheiro da Saúde?”, desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz, que transforma os dados contábeis e as informações da administração pública em uma linguagem simples e acessível a qualquer cidadão.