Em 2012, após quase um mês liderando as pesquisas de intenção de voto em São Paulo capital, o candidato do PRB, Celso Russomano, obteve apenas 21,60% dos votos válidos e sequer foi ao segundo turno.
Segundo ele, isso se deveu ao pouco tempo de TV e a uma confluência de fatores externos: “os partidos políticos se uniram e nos bombardearam”. É ingenuidade pensar que isso pode não acontecer numa disputa dessa envergadura.
Em 2016, a cena se repetiu como se fosse um “vale a pena ver de novo”. Liderando as pesquisas desde antes do pleito a ponto de supor vitória no primeiro turno, Russomano, o candidato favorito, desidrata e perde fôlego na reta de chegada. Teria o corredor polonês dos adversários triturado seu favoritismo novamente?
É um fenômeno simples de explicar, embora complexo de entender.
O candidato tem grande recall, alto índice de conhecimento e, antes da disputa tomar sua forma midiática mais explícita, se confronta com adversários menos conhecidos e por isso prevalece.
O recall – o alto índice de conhecimento- acaba ganhando ares de “intenção de voto” porque o eleitor tende a responder que vai votar em quem já conhece. É uma intenção de confiança, uma menção de conhecimento. No curso da campanha, contudo, percebe o auto-engano e migra para candidatos que lhe parecem mais viáveis. A simpatia e o conhecimento prévio não se convertem em adesão.
A rejeição prévia e manifesta, fruto de refregas anteriores, guarda uma outra rejeição, essa latente, que espera o momento certo para capturar a memória do eleitor e contaminar de maneira corrosiva a intenção inicial de voto. Belém viveu nas duas últimas eleições um fenômeno similar.
Edmilson Rodrigues, ex-prefeito, bem avaliado, largou com mais de 40% de intenção de votos e liderou a corrida eleitoral até a reta final, quando declinou fatalmente. Entrou no segundo turno em queda, que teimosamente se manteve, em que pesem os esforços do candidato, até o voto final. As urnas então revelaram a reprise, o final que já vimos antes, em eterno retorno.
Nas duas eleições passadas, Edmilson repetiu essa performance. Em ambas, teve o voto majoritário da esquerda, desidratando os candidatos oficiais do PT, Alfredo Costa em 2012 e Regina Barata em 2016. Agora, costurando um apoio parcial da legenda – uma parte segue sustentando da ex pré-candidata Úrsula Vidal, do Podemos – Edmilson teria mais tempo de TV, mas segue cativando a mesma base e o mesmo arranjo político que o levou a derrota nas duas eleições anteriores. Não somou nada de novo. A base do PT não soma mais votos, porque já estava com ele nas eleições passadas. Edmilson não atraiu nenhuma outra legenda além das que lhe são cativas, o que demonstra incapacidade de ampliação para o centro, decisivo num pleito em que os extremos estão consolidados.
Atacado por suas deficiências como gestor ou por sua conduta sabidamente autoritária, mantém a mesma rejeição latente de antes – não a combateu – que espera o momento certo para eclodir. A derrota iminente de Edmilson se apresenta ainda em dois fatores mensuráveis. O primeiro é uma largada com a menor intenção de votos desde que saiu da prefeitura, em 2004. Nas duas eleições anteriores, largou com maiúsculos 47% em 2012 e com 43% em 2016.
Na última pesquisa registrada no Pará, feita pela Big Data para a TV Record, Edmilson larga com 26%, seguido por Úrsula Vidal com 14% e Éder Mauro com 12%. A desidratação é visível a olho nu.
Há pesquisas domésticas circulando de mão em mão, feitas ao gosto do freguês, mas os últimos dados oficiais, registrados no TRE, são esses apresentados aqui. O levantamento mostra Edmilson com praticamente a metade dos votos que já teve nos pleitos passados, quando perdeu. Além disso, mantém a maior rejeição dentre os candidatos favoritos, 14,3%, contra 4,1% de Úrsula Vidal e 10,3% de Éder Mauro.
Outro fator que conta contra a pretensão do candidato do PSOL é a estreiteza do leque de alianças que insiste em desenhar. É sabido que a esquerda sozinha não ganha eleição em Belém. Também é sabido que duas máquinas poderosas estarão em confronto mortal nesse pleito, o que tende a criar uma polarização de estruturas para além da normativa direita versus esquerda, que anima os sonhos dos extremos.
Edmilson e seus entusiastas esperam, repetindo os mesmos erros das duas eleições passadas, obter um resultado favorável. Difícil crer. Afinal, a melhor definição de insanidade é justamente essa: fazer a mesma coisa repetidamente e esperar, ao fim e ao cabo, resultados diferentes.
Por Carlos Eduardo da Costa – jornalista e colaborador deste Blog.