Empresa recém-criada leva contrato de R$ 6 milhões da saúde em Mãe do Rio e levanta suspeitas de favorecimento.

Um contrato milionário firmado pela Prefeitura de Mãe do Rio sob a gestão de Bruno Rabelo está no centro de uma denúncia enviada ao Ministério Público do Estado do Pará. A polêmica gira em torno da contratação da empresa L2 Gestão em Saúde LTDA, fundada em outubro de 2024, que venceu um chamamento público apenas cinco dias após o início das inscrições, levantando suspeitas sobre a lisura do processo.

O edital nº M-2025-00002/SAMUS, publicado em 20 de março de 2025, previa a contratação de serviços médicos especializados para o SUS. Em 31 de março, a L2 foi anunciada como vencedora no Diário Oficial. O que chamou atenção foi o fato de que, no dia 27 de março — apenas um dia após o início das inscrições — Letícia Mattos, sócia da L2, já informava via WhatsApp que a empresa assumiria a gestão do hospital municipal a partir de 1º de abril. Isso ocorreu antes mesmo da oficialização do resultado.

Letícia é irmã da médica Lorena Mattos, também sócia da empresa. Ambas têm ligação pessoal com a primeira-dama de Mãe do Rio, Carol Rabelo, esposa do atual prefeito Bruno Rabelo. Prints de redes sociais indicam amizade entre elas, o que pode configurar conflito de interesses, já que o edital veda participação de pessoas com vínculos pessoais com agentes públicos envolvidos.

A secretária de saúde do município, Laura Vitória Rabelo Oliveira, responsável direta pelo processo, é prima do prefeito e filha do ex-prefeito Doido Rabelo, uma figura central da política local. Laura já esteve envolvida em outras polêmicas, como o chamado “escândalo do cheque moradia”, no qual sua mãe, Aurivânia Rabelo, ex-primeira-dama e ex-secretária de assistência social, foi acusada de beneficiar parentes com recursos públicos.

Entre os beneficiados do esquema do cheque moradia estão Francisca Juliana Lima Rabelo (cunhada da primeira-dama), José Cláudio Rabelo (irmão de Carol Rabelo) e Amanda Rodrigues da Costa, esposa de Joel Rabelo, sobrinho do ex-prefeito. Todos são servidores municipais, o que levanta suspeitas de nepotismo e desvio de finalidade do programa.

A empresa L2 Gestão em Saúde, com menos de seis meses de existência no momento da contratação, não teria como comprovar experiência técnica exigida para um contrato estimado em R$ 6.583.656,80. Em abril, o primeiro mês de atuação, foram emitidas notas fiscais que somam R$ 285 mil, um aumento de 26% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A denúncia está nas mãos do Ministério Público sob o número 01.2025.00015556-5, enquanto os principais nomes do enredo — Bruno Rabelo, Laura Rabelo, Letícia Mattos e os demais — preferem não estragar o silêncio conveniente. A Prefeitura de Mãe do Rio também não se deu ao trabalho de responder, talvez porque, numa cidade onde empresas nascem prontas e contratos milionários são decididos em tempo recorde, transparência seja só um detalhe burocrático.