Brasília foi atacada com extrema violência neste domingo. Prédios, palácios, obras de arte e objetos de valor histórico foram destruídos por bolsonaristas
Conheço um monte destes golpistas idiotas, infelizmente. Gente bacana, amigos de décadas, pais e mães admiráveis que revelaram nos últimos meses uma faceta horrenda que eu sinceramente desconhecia. Talvez seja minha grande perda nessa história toda.
O que aconteceu em Brasília, neste domingo dia 8 de janeiro, ficará marcado como mais um triste atentado contra a democracia brasileira. Sim, mais um! E provavelmente não será o último. Há uma certa idolatria brasuca por ditadores.
Um destes meus amigos idiotas, um grande irmão na verdade, vibrava, em sua casa de praia, enquanto o pau quebrava em Brasília. Outro, também um irmão que a vida me deu, publicava mensagens infantis em suas redes sociais. Que tristeza, meu Deus.
Colegas de imprensa, inacreditavelmente, nos últimos dias e até mesmo hoje, defenderam ou relativizaram os atos terroristas. Essas pessoas entrarão para a história como cúmplices. E jamais os verei e respeitarei como antes, ainda que tudo caia no esquecimento.
O INÍCIO
Mas essa história não começou hoje, ou ontem. Ao contrário. Desde a posse do inominável ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, não à toa apelidado por mim “verdugo do Planalto”, a sanha golpista dos autocratas aflorou e não parou de crescer.
Nos últimos meses atingiu níveis inaceitáveis, mas mesmo assim ninguém, leia-se o Poder Público, fez nada para coibir os crimes em andamento: interdição de ruas, avenidas e estradas; depredação de patrimônio público; violência física e assassinatos.
Aliás, piorou muito nos últimos dias, com os atos de vandalismo e a tentativa frustrada de ataque terrorista em Brasília. E mais: em Belo Horizonte e em outras capitais, golpistas tomaram conta das portas dos quartéis e passaram a espancar trabalhadores da imprensa.
Eu afirmo: foram Jair Bolsonaro, seus filhos e seus seguidores mais próximos, inclusive parlamentares, que conspiraram contra o Estado Democrático de Direito do Brasil, e alimentaram uma rede de terroristas golpistas que atacaram a democracia brasileira.
O MEIO
Diversos segmentos da imprensa, do meio empresarial e do agronegócio, do mundo político e principalmente das polícias militares e Forças Armadas, não apenas assistiram a tudo bovinamente calados, mas apoiaram, ainda que veladamente, um golpe de Estado.
As maiores lideranças políticas do Brasil também falharam miseravelmente no combate ao crime contra a democracia criado, gestado, nascido, alimentado e fomentado por Jair Bolsonaro, pois mantiveram-se quietos, ou tímidos, por interesses políticos e financeiros.
Partidos políticos aliados do ex-presidente, como o PL do ex-presidiário Valdemar Costa Neto; o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira; o Procurador-geral da República, Augusto Aras, e sua vice, Lindora Araújo são co-responsáveis, dentre tantos outros.
Aliás, é obrigação constitucional das autoridades responsáveis iniciar uma “caça às bruxas” sim. Os criminosos têm de ser presos, mas todos eles, inclusive os ainda lotados nos Três Poderes, pois há vários. Quem incentivou, quem apoiou e quem se omitiu ou concorreu.
O FIM
Brasília foi atacada com extrema violência neste domingo (8/1). Prédios, palácios, obras de arte e objetos de valor histórico, presenteados por nações estrangeiras, foram destruídos por vândalos bolsonaristas. Como é mesmo? Patriotas, cristãos, cidadãos de bem.
Os prejuízos são incalculáveis, sejam materiais ou não. Os danos à imagem do Brasil são ainda maiores. O País foi duramente golpeado, e o mundo político e jurídico têm agora a obrigação de sanar definitivamente o que permitiram existir até então.
O presidente Lula determinou intervenção federal no DF. A Advocacia Geral da União (AGU) pediu a prisão de Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro, hoje disfarçado de secretário da segurança do Distrito Federal. Mas é pouco. Muito pouco.
Ibaneis Rocha, o governador, tem de entrar na lista dos responsáveis. E centenas de prisões em flagrante precisam ocorrer. Basta cercar os ônibus dos terroristas golpistas e prendê-los um a um. Não há por que não fazê-lo! É simples, fácil e eficaz.
NOMES AOS BOIS
Ibaneis Rocha, governador do DF; Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro e secretário de segurança do DF; Augusto Aras, PGR; Lindora Araújo, vice-PGR; Jair Bolsonaro, ex-presidente; Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, parlamentares. E mais…
Bia Kicis, deputada federal; Carla Zambelli, deputada federal; Bruno Engler, deputado estadual e Nikolas Ferreira, deputado federal, eleitos em MG; Carlos Von e Capitão Assumção, deputados capixabas; Juliana Gaioso, influencer do Mato Grosso. Não acabou!
Carlos Jordy e Otoni de Paula, deputados federais fluminenses; Ricardo Barros, o deputado das vacinas superfaturadas. E Mário Frias, Gabriel Monteiro, Silas Malafaia, Daniel Silveira, Ricardo Salles… Os picaretas golpistas da Jovem Pan! Além de Constantino e Figueiredo.
Tem o véio da Havan também. E aquele babaca de São Paulo, Tomé alguma coisa. São tantos, que é impossível lembrar e grafar em uma coluna apenas. Eis quem, direta ou indiretamente, muito ou pouco, da forma que seja, contribuiu para tudo isso
ENCERRO
O primeiro alvo do bolsonarismo foi Rodrigo Maia. Em seguida, o ministro Barroso. Pediram, no começo de 2019, o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Depois miraram em Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes (poupado após um abraço fraterno).
Daí veio a covid, o boicote às medidas sanitárias e aos decretos dos prefeitos e governadores. Na sequência, as manifestações contra o judiciário, as motociatas pestilentas, a pregação em favor da desobediência civil; e o impeachment deu as caras.
O acordão com Lira e Nogueira resolveu tudo. O Centrão dominou o governo e Bolsonaro passou a fazer o que mais gosta e sabe: arruaça institucional. Mirou as urnas, as eleições, o TSE e levou sua multidão de fanáticos a não aceitar a eleição de Lula da Silva.
Eu me orgulho de estar contra este cretino e seus vassalos praticamente desde o início de seu desgoverno cruel, homicida e golpista. É o mínimo que eu poderia fazer após ter votado neste traste, no segundo turno de 2018 (algo que nunca me perdoarei).
Sim, me aborreci bastante. Contrariei muitos interesses. Quase perdi uma valiosa atividade que adoro. Adquiri inimigos e desafetos. Mas escolhi o lado certo. E este domingo trágico provou que fiz o certo. Por isso vou dormir em paz. Que o dia traga melhores notícias.
Por RICARDO KERTZMAN