Prefeitura abandona feirantes do Ver-o-Peso.

O fechamento de diversos espaços de venda de comidas espalhados ao longo do Complexo Ver-o-Peso, devido ao risco de contágio da Covid-19, fez com que diversas boieiras amargassem prejuízos. A comercialização de alimentos como o tradicional peixe-frito com açaí e até mesmo o simples completo, formado por um salgado mais suco, está suspensa. Os produtos estão cada vez mais raros de se encontrar no local. Sem ter como garantir lucro diário e sustento na mesa das famílias, cerca de cem cestas básicas foram entregues ontem de manhã para as trabalhadoras, por meio de uma articulação junto ao Governo do Estado.

Apesar da ajuda bem-vinda, muitos trabalhadores reclamam da falta de apoio por parte do poder público municipal, que administra o espaço e, segundo os feirantes, ainda não ofereceu qualquer tipo de amparo à categoria.

A boieira Maria Correa foi uma das contempladas com a entrega de cestas básica. Ela disse que, apesar dos recebimentos da doação, isso não será suficiente para aguentar o período parada e, bastante emocionada, pedia ajuda para passar pelo momento em que seu box estará fechado. “Eu sou dona da minha casa, sou marido, sou mulher e preciso trabalhar para sobreviver. Isso aqui não resolve minha situação. A prefeitura não procura a gente para nada, já estou parada há duas semanas e até agora não nos procuraram. Eu trabalho aqui há muitos anos, criei meus filhos aqui na feira e a prefeitura não faz nada por nós e, se não trabalhar, eu não sei como vai ser o futuro”, disse, preocupada.

DESESPERO

Maria Neuzimar Modesto, 63, também recebeu uma cesta básica. A boieira disse que a queda nas vendas, seguida da preocupação com a saúde, forçou a interrupção do serviço e reclamou dos que ainda não se deram conta da gravidade da situação e abrangência do novo coronavírus. “Tem muita gente que trabalha porque ainda não entendeu os riscos, pensa que é brincadeira, mas infelizmente temos de nos afastar. É uma coisa séria e infelizmente é preciso dar um tempo. Eu estou quase passando por uma depressão porque tenho de manter minha casa, alimentação e remédios e peço para Deus me abençoar para trabalhar, mas do jeito que está tudo devagar, acho que a partir de amanhã eu não venho mais”, comentou.

Manoel Rendeiro, o Didi do Ver-o-Peso, da Comissão dos Trabalhadores do Complexo Ver-o-Peso, afirmou que a doação é resultado de uma mobilização das próprias boieiras e cobrou mais empenho de vereadores e prefeito para que o benefício seja ampliado a todos os trabalhadores. “São 260 barracas e, se você colocar no papel, são mais de 500 pessoas trabalhando aqui. As donas de barracas vão doar as cestas delas para quem trabalha com elas, uma ação muito boa, mas falta participação dos vereadores. São 35 vereadores, será que nenhum pode doar uma cesta básica para o pessoal que está parado? A gente não vê uma ação da prefeitura, não vem ninguém aqui ajudar e a situação fica difícil”, criticou.

Informações DOL