Crimes não faltam. Na verdade, acumulam-se aos montes desde 2019. São delitos óbvios de todos os tipos. É fato que o que mais Jair Bolsonaro faz é desrespeitar leis, afrontar a Constituição e desafiar o estado democrático de direito. O 7 de Setembro acrescenta mais algumas marcas na coronha do revólver, imagem tão ao gosto bélico do tiranete. O mico de não botar nas ruas nem 10% do público previsto não inibiu sua verborragia tacanha.
Ao dizer com todas as letras que não aceitará o resultado das eleições, espécie de habeas corpus antecipado para a derrota inevitável, ele repetiu o mantra que utiliza há meses: quer, só por pirraça, impor a tese de que urnas eletrônicas não são confiáveis. Joga isso para a patuleia que o segue bovinamente.
Como um típico político do século passado, Bolsonaro sonha com o voto de cabresto, com apurações que se estendem por semanas e a sempre possível e promíscua opção do mapismo, que permitia a um sujeito ir dormir derrotado e acordar eleito no segundo dia de apuração. Isso era o Brasil do começo do século 20, quando os coronéis deitavam e rolavam.
Reformado por distúrbios mentais, Bolsonaro é um coronel em espírito e atitude, um capitão do mato. Acostumou-se a bravatear e faz disso estratégia imutável, confundida por alguns tontos com sabedoria política. Um sujeito que defende pena de morte, extermínio de índios e enaltece princípios nazistas não pode jamais ser tachado de sabido ou ladino. É um tosco de crachá, um verdugo trajando terno barato.
A outra ponta da cruzada bolsonarista é o alegado destemor de enfrentar instituições que ele rotula de persecutórias e parciais. A cretinice presunçosa vem misturada à certeza de que seus apoiadores não têm tutano ou memória, pois foi o mesmo STF que ele tanto apedreja que permitiu a chance de disputar a eleição sem o dissabor de enfrentar o candidato favorito em todas as pesquisas. Um pouco antes, em 2016, a Corte havia se acumpliciado aos golpistas que surrupiaram o poder de Dilma Roussef, sem crime ou culpa.
Como se sabe, em 2018, Lula foi excluído daquele pleito por força de julgamentos mandrakes e condenações espúrias, conduzidos pelo então juiz Sergio Moro, o mesmo cidadão que meses depois não hesitaria em aceitar um cargo no governo que ajudou a eleger com a força da toga. Aliás, o ex-lavajatista não demonstrou um pingo de escrúpulo ou constrangimento ao se engajar na entourage de Bolsonaro.
Apesar dessa monumental ajuda, o presidente da República assesta suas armas em direção ao Supremo. Mais que isso: insufla seus apoiadores a ameaçarem ministros e a abraçar a desobediência civil como causa. Definitivamente, não vai bem um país que propicia a um insano determinar a marcha da narrativa e se sinta à vontade para flertar com o golpismo. Se o presidente da República diz que não vai cumprir ordens judiciais, quem irá fazê-lo a partir de agora?
Bolsonaro age com a sem-cerimônia de quem sabe que seus acólitos na Câmara dos Deputados, no Senado e na PGR garantem a blindagem necessária para que possa seguir bravateando todos os dias, sem exceção. Enquanto milhões de brasileiros têm compromisso diário com o trabalho, o privilegiado ocupante do Palácio do Planalto recusa-se a trabalhar. Gasta seu tempo brincando de tiozão do churrasco ou de motoqueiro de fim de semana.
O rastro sanguinário de 584 mil mortes pela covid no Brasil não parece incomodá-lo, e nem sensibiliza seus seguidores, que se dispõem a acenar bandeirolas, vestir camisa da CBF e gritar “mito” para o cabra que abraçou o negacionismo como método e o atraso na compra de vacinas como estratégia para turbinar propinas. O crime, para os bolsonaristas, é apenas um detalhe insignificante.
Por tudo isso, é mais do que chegada a hora de fazer o miliciano genocida ir cantar em outra freguesia.
Já deu.
Por Gerson Nogueira