Ver-o-Peso é o retrato do abandono nos seus 393 anos de existência.

Ver-o-Peso comemora seus 393 anos de existência. Mesmo sendo um lugar rico em sabores, diversidade cultural, vive seu cotidiano estrutural em forma triste e melancólica, abandonado e desprezado pelo poder público. Em mais um aniversário, a população assiste a deterioração do maior símbolo da cidade, enquanto o poder público municipal insiste acreditar em uma realidade destoante daquilo que é visto por milhares de pessoas que passam pelo cartão-postal todos os dias. Quem trabalha ou passeia no Ver-o-Peso percebe o nítido abandono que tem caracterizado esse e outros pontos turísticos de Belém.

O descaso pode ser visto em todos os setores da feira. Do estacionamento à famosa pedra, onde é comercializado o pescado que abastece Belém, a quantidade de sujeira é assustadora. Pessoas em situação de rua fazem suas refeições e necessidades diárias em meio aos passageiros que embarcam nos dois terminais hidroviários com viagens para o município de Barcarena.

A limpeza é escassa e insuficiente. Bem ao lado, vendedores de plantas dizem que foram completamente esquecidos pelo prefeito e, sem perspectiva alguma, temem ser obrigados a mudar para outro ponto mais acessível. Entre os seis boxes destinados ao comércio de plantas, apenas um tem certa estrutura, mas por conta do proprietário. A última reforma feita foi na despedida do Duciomar Costa (ex-prefeito, 2005/2012), mas ele ainda fez errado. Lá parece um cativeiro, uma jaula. Não serve para planta. O atual prefeito só passa por lá e nem olha, mesma coisa fazem os fiscais.

O descaso da Prefeitura é gritante. Em outro setor da feira, destinado ao comércio de comida e bebida, os prejuízos só não são maiores por causa da união dos trabalhadores. Eles alegam que toda melhoria que é feita, são por eles lá. As lonas da feira sempre rasgam, devido o tempo e falta de sua manutenção, então os feirantes juntam dinheiro e compram novas lonas.

A manutenção da limpeza é feita em apenas duas situações durante o ano. Na época do Círio de Nazaré e na festa da feira, em março. Aí eles trocam refletores, dão uma lavada nas lonas, fazem um serviço básico para o turista achar que está tudo bem. Quem resolve turistar na feira tem outro grande problema. Em todo complexo existem apenas três banheiros: no Mercado de Carne, Mercado de Peixe e na área externa de alimentação. Todos eles, especialmente o último, estão malcuidados e nem a cobrança de taxa única no valor de R$ 1 sensibiliza a gestão do Veropa.

Nem mesmo o tombamento, não salvou a feira do descaso da Prefeitura. Em 1977, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou o conjunto arquitetônico e paisagístico do Ver-o-Peso, por sua imponência e serventia à história local. Em 2000, o mesmo Iphan restaurou completamente o Mercado de Carne, que, ao lado do Mercado de Peixe, Praça do Relógio, a Doca, Feira do Açaí, a Ladeira do Castelo e o Solar da Beira, compõem o maior ícone da cidade.

O puxadinho milionário embargado no Ver-o-Peso de Zenaldo.

Pra completar, a Prefeitura de Belém teve a “brilhante” ideia de contribuir monstrengo na forma de na feira do Ver-o-Peso que assombrou geral, inclusive dos próprios feirantes. O puxadinho vinha sendo erguido, sem alarde, na orla da feira, impedindo o público de ter acesso visual à baía do Guajará. Ninguém até hoje soube informar o nome do gênio por trás dessa fuga de ideia da malsinada gestão tucana na Prefeitura de Belém. Quem mais perderia com a muralha seria o próprio turismo da cidade. Um dos cartões-postais da capital está sendo vilipendiado à vista de todos. Ainda bem que o Ministério Público e IPHAN entrou em ação e embargou a obra da desastrosa gestão de Zenaldo. A obra já foi destruída pela Prefeitura que reconheceu o erro, agora é quem vai pagar a conta? O puxadinho em concreto, que o prefeito chama de “pequeno erro de projeto”, custaria a bagatela de R$ 4 milhões aos cofres municipais.

A construtora responsável pela obra é a Impax. O contrato celebrado entre ela e a Seurb prevê a execução da obra de substituição da cobertura e das instalações elétricas, além de recuperação do piso e drenagem na feira. Pelos serviços, vai receber quase R$ 5 milhões. O prazo para a execução da obra é de oito meses a contava de 10 de janeiro de 2020, que até hoje nada.

A última reforma do complexo ocorreu em 1998, ainda na administração de Edmilson Rodrigues. O puxadinho em concreto, que o prefeito chama de “pequeno erro de projeto”, vai custar a bagatela de R$ 4 milhões aos cofres municipais. Nota da assessoria do prefeito vem com a afirmação de que a construtora responsável pela reforma irá arcar com os custos da brincadeira. Ninguém tem mais dúvida, porém, de que a grande reforma, prometida por Zenaldo nos 400 anos da cidade em 2016, ficará como herança para o próximo prefeito executar.

Apesar de todo cuidado com o patrimônio histórico, alguns desses pontos hoje servem apenas de abrigo para pessoas em situação de rua. Enquanto o órgão nacional olha pelo patrimônio, o prefeito Zenaldo Coutinho o deixa de lado. O Prefeito de Belém, em todas suas campanhas eleitorais promete e mais promete. Cadê a reforma e ampliação que a Prefeitura faria no Ver-o-Peso? Já se chega no final da administração e nada. Ninguém tem mais dúvida, porém, de que a grande reforma, prometida por Zenaldo desde os 400 anos da cidade em 2016, ficará como herança para o próximo prefeito executar. Triste Ver-o-Peso, e triste trabalhadores, mesmo assim, feliz 393 anos, desejo esperança de dias melhores.

Fotos: Jader Paes/ Fernando Araújo