Vereadores de Belém excluídos questionam objetivo de ação para compra de medicamentos.

Grupo diz que não foi convidado e que iniciativa teve interesse político e de autopromoção

O que pode ser visto por muitos como uma boa ação acabou gerando confusão na Câmara Municipal de Belém. Uma parte dos vereadores da casa resolveu fazer coleta para compra de medicamentos a serem doados para unidades de saúde, prontos socorros e hospitais públicos de Belém, pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saúde. O ato, que teria conseguido reunir mais de R$ 100 mil para a compra da medicação, foi formalizado na sessão desta terça-feira (12) e divulgado na imprensa e nas redes sociais, na página da Câmara e do presidente da casa, Mauro Freitas (PSDB), na última semana. Ao todo, segundo informado durante a sessão, 29 parlamentares aderiram. No entanto, os seis restantes reclamaram que sequer foram convidados e alguns deles afirmaram, durante os debates, que a ação teve interesse político e de autopromoção.

Um dos que questionou o ato e o fato de não ter sido convidado para participar foi o vereador Sargento Silvano (PSD). “Essa ação não deveria ser de amigos dos prefeitos ou do presidente, mas da Câmara Municipal de Belém”, afirmou o parlamentar, que também fez duras críticas à gestão municipal, citando a situação em que se encontram as unidades de saúde da capital. Logo em seguida, em suas redes sociais, ele afirmou que foi excluído da sessão remota, pela presidência da casa, e não conseguia retornar ao trabalho.

“Eu quero entrar pra trabalhar e não consigo. Eu quero entrar para expressar o que eu penso, e está bloqueado. Eu fui removido pelo presidente, porque ele não é presidente, é assessor do prefeito”, declarou, em vídeo publicado no Instagram onde aparece tentando acessar o plenário virtual da Câmara e não consegue. “Ele vai alegar que minha internet caiu, papo furado dele. Minha internet não caiu”, completou.

No final da sessão, o presidente Mauro Freitas argumentou que Silvano estava atrapalhando a fala de seus colegas parlamentares e desbloqueava o áudio toda vez que era bloqueado.

“Nós não vamos permitir de forma alguma que o vereador atrapalhe outro vereador. Todos aqui temos que nos respeitar”, disse o presidente. “O vereador Sargento Silvano infelizmente ficou atrapalhando a fala do nobre parlamentar e no intuito da gente bloquear o áudio dele e ele desbloquear, bloquear e ele desbloquear, o sinal dele acabou caindo e isso foi até bom, porque serve de exemplo pra mim e para os nobres pares que a gente tem que respeitar os nobres colegas na sua fala”.

Outro que também reclamou da ação divulgada pela Câmara foi o vereador Emerson Sampaio (PP). “Em momento algum fui procurado para saber se eu podia ou queria participar”, declarou o parlamentar, afirmando que chegou a ser questionado e criticado por eleitores na rua, pelo fato de seu nome não estar presente na lista dos doadores.  

“Eu quero repudiar a atitude da Câmara, quando seleciona um grupo de vereadores e exclui outros, com o simples objetivo de tentar denegrir a imagem dos vereadores que não participam. Nós deveríamos ter, no  mínimo, respeito pelos nossos pares. Infelizmente, o presidente não se posicionou como presidente do Poder Legislativo, mas como amigo do prefeito e selecionou quem ele queria que participasse da ação para estar nas páginas do jornal”, disse o parlamentar, citando outros colegas que estariam à frente do ato. “Se for colocar ação “vereador Wilson Neto e seus amigos”, eu concordo, mas eu não aceito que essa ação seja dita como da Câmara Municipal de Belém”.

Também excluída da ação, a vereadora enfermeira Nazaré Lima (Psol) disse que a iniciativa da “vaquinha” era boa, embora ela não tivesse sido convidada. Parabenizou pela ação, mas citou frase que se refere à passagem do Evangelho segundo Mateus ( 6:1-40), no trecho, que diz “quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que, a tua esmola fique oculta”. Ressaltou ainda que muitas pessoas ajudam, mas sem fazer divulgação. “Mas é uma coisa que é louvável”, argumentou.

Fernando Carneiro (Psol), que também não foi chamado para participar da doação, criticou o fato da Câmara ainda não ter aprovado Projeto de Lei específico de combate ao coronavírus. “Projetos! Não estou falando de requerimentos. Eu sei que tem projetos apresentados, mas não está nem na pauta. Nenhum projeto de combate ao coronavírus está nem na pauta”, declarou o parlamentar, para em seguida criticar o anúncio da doação.

“Eu sei que tem muitos vereadores de boa-fé que fizeram essa doação, mas eu peço que os vereadores de boa-fé não aprovem esse requerimento, porque é pra autopromoção, para dizer ‘olha como eu sou bonzinho, a Câmara não faz nada, mas eu ajudo’. É uma vergonha para quem vai receber essa doação que vocês estejam colocando isso nos anais da casa. Eu faço minhas colaborações, mas não preciso divulgar”, disse Fernando, referindo-se a matéria publicada no jornal O Liberal, na edição do último sábado (9), sobre a doação, e que um requerimento apresentado nesta terça pedia a inclusão nos anais da casa.

“Aqueles que doaram, que votem contra esse requerimento, porque é uma vergonha para essa casa, que não faz nada e vai colocar nos anais uma matéria de autopromoção dos amiguinhos do prefeito. Isso é aproveitamento político, da dor dos moradores de Belém”, disse o vereador do Psol.

O requerimento foi aprovado com 26 votos sim e um não, do vereador Fernando Carneiro. Emerson Sampaio votou a favor, mas disse ser contra a divulgação do ato.

Doadores – Os vereadores que participam da doação, por outro lado, defenderam o ato afirmando ser de iniciativa dos parlamentares, e não da Câmara.

Por Keila Ferreira | O Liberal