Candidatos devem apostar cada vez mais no virtual.

As medidas de restrição de circulação de pessoas impostas pela pandemia do novo coronavírus levarão a um processo eleitoral em moldes inéditos na história do Brasil a começar pela própria campanha eleitoral, que começa em 27 de Setembro e do adiamento dos dias de votação. Se não houver mudança, comícios, caminhadas e outras programações, que costumeiramente se baseiam em aglomerações, estarão proibidas, e restará aos candidatos e suas equipes explorar a internet da maneira mais criativa e atraente possível ao eleitor.

Para os concorrentes que, até agora, se mostraram avessos ao meio on-line, a dica é se espertar para não correr o risco de amargar uma derrota em novembro, quando devem ocorrer o 1.º e 2.º turno das eleições, em razão da aprovação da proposta de Emenda Constitucional 18/2020, que adiou as datas.

Não é simplesmente se expor no meio virtual, mas sim entender a melhor forma de passar a mensagem ao eleitorado. “A sintonia nos canais alternativos é uma exigência tecnológica do momento, mas ela, em si, não basta. É preciso ficar atento a todas as formas de contato disponíveis nas mídias. No Pará, temos um perfil socioeconômico que limita o acesso à banda larga e o tempo de presença muito forte, no interior do Estado, de mídias tradicionais como rádio, cujo alcance é inquestionável. A maioria dos aparelhos de celular são pré-pagos. Isso exige que a presença on-line seja combinada com outras ferramentas. A televisão, por exemplo, segue tendo peso, por ser o meio de maior cobertura é maior impacto no país”, atenta Chico Cavalcante, diretor de criação da agência vanguarda e CEO da Politic Lab, agência especializada em Marketing político.

Ele afirma que comícios e caminhadas são atos “cênicos”, que servem muito mais à equipe de companha, no sentido de gerar imagens que serão replicadas nas mais diversas mídias, do que propriamente para garantir a preferência na urna. “O desafio que a pandemia adiciona aqui é encontrar formas de substituir essas atividades por atos com o mesmo impacto junto aos eleitores, feitos em estúdio ou ambientes fechados, por exemplo”.

Ricardo Amado coordenou o marketing da campanha do então candidato ao Governo do Estado, Helder Barbalho, em 2018, que venceu o pleito naquele ano. Ele considera exagerado dizer que já está fadado a derrota os que são exatamente familiarizado com a internet. “Até porque ainda dá tempo desse cara correr e contratar profissionais especialistas que minguem equipes e façam um bom trabalho”, justifica. “A questão é: o candidato que não estiver, a essa altura, minimamente conscientemente de que vai ter que aturar de forma organizada nas redes e no digital tem um gigantesco problema para resolver. E urgente”.

TRABALHO

Tambémresponsável pela campanha que elegeu o senador Fernando Bezerra (MDB/PE) em 2014, e com experiência em campanhas presidenciais no Brasil e no exterior, Amado avisa que o trabalho, nesses cenários, será intenso e exigirá investimentos, métrica e, sobretudo, uma equipe seria e capacitada.

“Creio que estamos todos, profissionais e agentes políticos, avaliando essa realidade que se impôs sobre nosso trabalho e sobre essas eleições. Muitas coisas estão desenhadas e definidas, mas outras tantas ainda estão no campo da avaliação- e, claro, todo mundo está buscando maneiras de se diferenciar nesse jogo. Nesse novo jogo. Já está quase que certo, segundo ele que as convenções partidárias serão eventos virtuais.

Diretor da Gamma Comunicação, Hérycles Horiguchi diz estar sempre atento a possíveis novos formatos que possam surgir, e também que não estar perto fisicamente não é sinônimo de distância.

“A qualquer momento podemos ser surpreendidos com uma nova ferramenta para trabalhar. Precisamos estar ligados e abertos para o novo. Distanciamento social não quer dizer ausência social. É imprescindível que o candidato mostre presença junto à comunidade e seus eleitores, sem precisar abraçar e apertar as mãos”, orienta. “Acredito que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está ligado no desenrolar da pandemia e, se preciso, estabelecerá as regras que forem necessárias, para garantir um pleito com segurança para a população”.

Ainda assim, ele acredita que, de alguma forma, a campanha de rua vai acontecer, mas em outro formato. “Não dá pra ficar apenas no virtual, sob o risco de ser desacreditado”, reforça. “Assim como também haverá comitê de campanha físico, só que com estrutura mínima é muito trabalho na modalidade home office”.

Contra a disseminação de notícias falsas

Este pleito deve marcar também por conta da coração de uma “barreira” contra a disseminação de informações falsas. Além da “CPI das Fake News” em andamento no Congresso Nacional, mecanismos legais, ações de redes sociais e agências/portais que fazem checagem dos fatos devem diminuir essa circulação.

“ A legislação eleitoral, especialmente por conta dos episódios ocorridos em 2018, assumiu protagonismo na criminalização das Fake News. Com a Lei 13.834/201, foi criminalizada a denunciação caluniosa eleitoral, que abrange a propagação de notícias falsas que prejudiquem adversários políticos”. cita Acácio Miranda da Silva Filho, doutorado em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP/DF) e Mestre em Direito Penal Internacional pela Universidade de Granada/ Espanha.

Enquanto o Congresso atua na investigação de notícias falsas que foram propagadas durante as eleições de 2018, por meio da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, o TSE também está atento aos preparativos para a eleição deste ano.

“O Tribunal aperfeiçoou os mecanismos de controle de propagação de notícias através de mídias sociais, evitando a prolação indiscriminada de notícias”, destaca Miranda. Segundo ele, a inovação criminaliza a “boca de urna virtual” e medidas concretas deverão ser adotadas, e serão tidos como criminosos os pedidos de votos através das ferramentas de comunicação virtual 24h que antecedem o pleito.

Do outro lado, as próprias plataformas de redes sócias vêm criando aos poucos mecanismos para inibir disseminação de Fake News, como limitação de ação de robôs, de perfis falsos.

Por Carol Menezes