Projetos que incentivam a reflexão de vida nas pessoas privadas de liberdade têm sido implantados em várias unidades penais do Pará. Na manhã desta sexta-feira (16) foi iniciado o “Projetar o Futuro”, voltado ao público LGBTQI+ do Centro de Triagem Metropolitano II (CTM II), em Ananindeua. A atividade, executada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), tem o intuito de acolher os internos com uma iniciativa cinematográfica e mostrar, através de filmes, que nunca é tarde para mudar de vida. No total, 20 pessoas em custódia estão participando do projeto.
O filme “Estrelas além do tempo” foi exibido durante a primeira sessão de filmes semanais, que serão passados nas sextas-feiras. A ação começou no Centro de Reeducação Feminino (CRF), em Ananindeua, e cada vez mais está se expandindo para outras casas penais. O projeto também é realizado nos Centros de Reeducação Feminino de Marabá e Santarém. A sessão de filmes contará, no CTM II, com a participação de 20 pessoas privadas de liberdade fixas, e em cada semana a unidade trará filmes que reflitam mudanças de vida e metas de sucesso com honestidade e força de vontade. A atividade é exercida pela Diretoria de Reinserção Social, com apoio da equipe pedagógica da unidade.
O objetivo da ação é estimular os internos e internas a se identificarem com as histórias dos filmes, com as lutas e persistências dos personagens. Após o término do filme, os custodiados fazem uma resenha contando os principais pontos do filme que lhes chamaram atenção – sem caráter crítico, só com o propósito de analisar o desempenho mental deles durante o filme. Com isso, é gerada a remição de pena.
Entre os participantes, a transexual Janaina Morais afirma que é inovador uma sala de cinema dentro de uma unidade penal e a iniciativa vai refletir na vida dela fora das celas. “Para mim é um sonho. Sempre foi o meu sonho fazer cinema, e agora, eu que fiz teatro, poder participar do projeto, é muito esperançoso. Eu acho muito importante”, acrescenta.
Já para o interno Dilermando Freitas de Lima, o projeto ajudará na reflexão de situações que aconteceram na vida de todos os participantes e os impulsionarão a ser uma pessoa melhor. “O projeto vai só somar em questão de crescimento pessoal, na questão de humanização principalmente. A gente vai poder refletir os nossos atos, refletir a nossa conduta e aproveitar para tirar bom proveito na questão da educação também”, destaca Dilermando.
As atividades são importantes a este público para permitir o acesso que talvez tenha sido negado a eles na sociedade, destaca a pedagoga da unidade, Joane da Silva Carvalho. “Eles vão se capacitar para que, ao saírem daqui, eles tenham uma vida melhor do que quando eles chegaram. Com outros pensamentos e com uma outra consciência em relação ao que a educação pode fazer na vida de cada um deles”. Ainda de acordo com a pedagoga, a falta de apoio familiar, e da própria sociedade, faz com que esse público seja vítima de homofobia, baixo autoestima, e outras discriminações – questões que também foram levadas em consideração para a criação do projeto na unidade.
A diretora do CTM II, Kelvia Souza, ressalta a importância de colocar os custodiados em contato com obras de cinema que permitem melhorar a convivência deles, além de trazer esperanças para uma vida fora das grades. Para ela é acreditar que a ressocialização é possível também com o apoio educacional e cultural. “A gente tem o intuito de melhorar e agregar a vida deles aqui dentro do bloco, tirando um pouco daquela cela. No projeto eles vão conseguir viabilizar um futuro porque o filme dará esperança”, conclui a diretora.
Além do Projetar o Futuro, a casa penal recebeu doações para a criação de duas salas socioeducativas, onde funcionará uma biblioteca para educação e um refeitório dos internos. De acordo com o diretor de Reinserção Social, Belchior Machado, é dever da SEAP garantir o respeito à diversidade e dignidade a todos os custodiados, reconhecendo a identidade de gênero e a orientação sexual como direito subjetivo. “O Projetar o Futuro nasceu para incluir, reconhecer direitos, e é isso que nos motiva”.
Informações Agência Pará