De acordo com o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, o lucro da exploração de madeira ilegal no Brasil é utilizado por grupos criminosos para financiar políticos. A afirmação do delegado foi realizada durante uma palestra no Instituto Federal do Piauí pela Semana do Meio Ambiente da Instituição na última quarta-feira (2).
“Vai gerar [a madeira] muita riqueza para organização criminosa que vai fazer o quê? Financiar campanhas de políticos”, afirmou ele. “Por que tem tanto parlamentar defendendo madeireiro?”
O questionamento do delegado vai de encontro a muitas investigações de crimes envolvendo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles e seus diversos apoiadores, entre eles, o senador Zequinha Marinho (PSC-PA), um notório defensor de madeireiros ilegais no Pará e que se manteve em silêncio sobre as operações da PF contra Salles.
Em março deste ano, Zequinha, ao lado de outros congressistas, se reuniu com Salles para pedir a liberação da maior apreensão de madeiras do país. Em abril, Zequinha e Ricardo Salles estiveram juntos em Santarém para se reunir com madeireiros.
Ricardo Salles já confirmou, em uma entrevista à rádio CBN, que foi procurado por Zequinha Marinho para atuar na liberação de um carregamento de madeira ilegal, que estava bloqueado pela fiscalização ambiental.
O senador Zequinha Marinho já deu muitos indícios de sua aversão às leis ambientais e defesa de ilegalidades de madeireiras no Pará. Em janeiro, ele se queixou de “excessos” cometidos pela PF e se declarou em defesa dos “5 000 empregos diretos” gerados pelo setor madeireiro na região do Baixo Amazonas. Recentemente, ele considerou uma ação de fiscalização do Ibama como “pior do que o Estado Islâmico”.
Deixando mais claro o seu apoio ao desmatamento e comércio de madeira ilegal no país, Zequinha Marinho já divulgou um vídeo onde aparece ao lado de Jassonio Costa Leite, um empresário de Tocantins que é considerado o maior grileiro de terras do Brasil. O empresário foi alvo de investigações do Ibama, que recolheram uma série de depoimentos e denúncias anônimas durante ações de fiscalização realizadas desde o início de 2019.
De acordo com o Ibama, o empresário, lidera um grupo formado para invadir terras indígenas, fazer seu loteamento e vender as áreas dentro do território protegido.
No vídeo em questão, Zequinha Marinho aparece defendendo o empresário suspeito, afirmando que as ações do Ibama não estavam corretas e de que ele próprio iria falar com o presidente do Ibama para revogar as ações. Em um trecho do vídeo ele chega a dizer que “Não devemos dar cobertura para servidor bandido, malandro, como esse pessoal do Ibama”.
As ações de Zequinha Marinho se assemelham muito às decisões de Ricardo Salles, que está sendo investigado pela PF por sua atuação em diversos crimes ambientais. Para o delegado Saraiva, Salles fez diversas ações para obstruir uma investigação, a qual resultou em uma apreensão histórica de madeira ilegal.
Em abril, o ministro do Meio Ambiente defendeu o trabalho dos madeireiros. Salles disse que a “demonização” do trabalho dos empresários do setor pode colaborar com o aumento do desmatamento ilegal no país.
Saraiva também afirmou que a extração ilegal da madeira só é realizada com a corrupção administrativa. A madeira não circula sem um documento florestal, assim, todas as madeiras ilegais exportadas conseguiram, de alguma forma, documentos falsos ou fraudados, muitos a partir da administração pública.
“O que está destruindo a Amazônia é a extração ilegal de madeira”, disse ele. Em maio de 2021, os alertas de desmatamento para a Amazônia Legal bateram recorde.
Por Portal Zero94