Todo mundo riu da enxurrada de memes ironizando o fracassado desfile militar que o presidente Bolsonaro promoveu em Brasília, na última segunda-feira, 9.
Aquele amontoado de tanques expelindo fumaça por todos os lados foi motivo de piada nas redes sociais. Lembrou um desenho animado muito popular na década de 1990, Dick Vigarista e a Corrida Maluca. Uma piada de péssimo gosto, diga-se.
Bolsonaro, ameaçado de naufragar no mar de lama revelado pela CPI da Covid e vendo sua popularidade derreter por conta da inflação galopante e do desemprego em massa, adota o caminho da radicalização, pregando abertamente o golpe militar e o cancelamento das eleições do próximo ano. É um jogo jogado, como se diz: por mais bizarro que sejam as teses que ele defende, não se deve minimizar o caráter grave das ameaças à frágil democracia brasileira que o presidente promove todo santo dia. Seu objetivo é bem claro: criar uma narrativa para respaldar uma eventual a aventura golpista, tal qual fez seu ídolo Donald Trump, felizmente sem sucesso.
Muitos ficam sem entender o fato das Forças Armadas, que são instituições permanentes e parte fundamental do Estado brasileiro, se submeterem a esse circo dos horrores patrocinado pelo pior e mais perigoso presidente de todos os tempos. Ora, esquecem que o Brasil não fez um verdadeiro ajuste de contas com o último ciclo militar, o do golpe de 1964, que durou longos 21 anos. O pensamento autoritário e avesso à soberania popular está entranhado na oficialidade. A violência como método de fazer política também é muito forte entre os militares. O que surpreende é a adesão de boa parte do Alto Comando do Exército, Marinha e a Aeronáutica às insensatas e delirantes vontades de um presidente que de tão mal militar foi excluído por indisciplina, ainda nos anos 1980.
Desfile militar fora de época, a Corrida Maluca do Dick Bolsonaro, deve nos fazer pensar e não apenas rir. Já está passando da hora do Brasil ajustar o papel das Forças Armadas aos limites estritos que a Constituição determina. Façamos isso enquanto ainda há tempo de se evitar o pior.
Por Pimenta Malagueta