Há indícios de que a empresa Tradelink Madeiras, sediada em Ananindeua (PA), mentiu às autoridades sobre o local de onde o produto foi extraído
A Polícia Federal investiga se uma empresa alvo da Operação Akuanduba, que mira o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e vários outros agentes públicos, fez a “lavagem” de uma carga de madeira exportada para os Estados Unidos. Segundo o delegado Franco Perazzoni, que conduz o inquérito, há indícios de que a empresa Tradelink Madeiras, sediada em Ananindeua (PA), mentiu às autoridades sobre o local de onde o produto foi extraído.
A informação é de Rafael Neves, do UOL, em Brasília
As suspeitas foram descritas em um ofício que Perazzoni enviou no dia 19 ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal). No documento, o delegado pede que as investigações deixem passem à primeira instância, já que Salles perdeu foro privilegiado após deixar o governo.
Segundo Perazzoni, o inquérito deve correr na Justiça Federal em Altamira, no sul do Pará, área de onde foi extraída a maior parte da madeira de origem suspeita. Aberta pela PF em julho do ano passado, a investigação apura se Salles agiu para afrouxar a fiscalização do Ibama sobre a exportação de madeira. O ex-ministro deixou o governo há um mês, no dia 23 de junho.
“Lavagem” de madeira
A PF pediu a mudança das investigações para Altamira com base em informações repassadas ao órgão pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos. A autoridade ambiental norte-americana analisou as cargas de madeira brasileira apreendidas em portos do país, por problemas na documentação, e descobriu que a maior parte delas havia sido extraída da Floresta Nacional (Flona) de Altamira.
A área permite a exploração sustentável de madeira, mas a PF suspeita que nem todas as cargas investigadas foram extraídas dali. Em março de 2020, a Tradelink Madeiras fez uma exportação e declarou às autoridades que a madeira contida naquele contêiner havia sido extraída de determinado ponto da Flona de Altamira. Imagens de satélite, porém, não registraram nenhum sinal de exploração florestal naquela área desde julho de 2019, mais de oito meses antes.
Para a PF, esse lapso temporal indica de que a madeira contida naquela carga foi retirada de outro local. Perazzoni escreveu no ofício que a situação “é bastante inusual e reforça a possibilidade de ‘lavagem’ de produtos florestais de outras áreas a partir de documentos” usados nessa exportação.
“Dúvida não há de que os produtos florestais apreendidos pelas autoridades norte-americanas ou são oriundos, em sua maior parte, de áreas de concessão florestal no interior da Florestal Nacional de Altamira, ou foram extraídos de outras áreas, provavelmente próximas, mas legalizados por meio de documentos ideologicamente falsos dessas mesmas concessões”, apontou o delegado.
Além dessa suspeita, a PF apontou outras “incongruências” na documentação da Tradelink que acompanhava as cargas retidas nos Estados Unidos: erro ou ausência das coordenadas de origem da madeira, falta de autorização do Ibama, datas de transporte fora da validade e volumes de madeira que não coincidiam com o declarado.
O UOL procurou a Tradelink e pediu esclarecimentos sobre as suspeitas apontadas pela PF, mas não teve resposta até o fechamento dessa reportagem. O espaço está aberto para manifestação.
Informações Ponto de Pauta | UOL