Em entrevista à Rádio CBN nesta segunda-feira (26), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusou o senador paraense Zequinha Marinho (PSC) de ter pedido a liberação de mais de 226 mil metros cúbicos de madeira em tora apreendidos pela Polícia Federal, durante a Operação Handroanthus GLO, na divisa dos estados do Pará e do Amazonas. A declaração está repercutindo no meio político estadual.
De acordo com Salles, quatro senadores e três deputados federais o procuraram para pedir a liberação da madeira ilegal na divisa de Pará e Amazonas. Os primeiros foram do estado de Santa Catarina.
“Nós fomos procurados primeiro pelo senador Jorginho Mello (PL-SC) e pela deputada Caroline de Toni (PSL-SC), porque são representantes do estado de Santa Catarina e parte desses empresários que se acham prejudicados são do estado de Santa Catarina, mas estão há décadas no Pará”, disse o ministro à CBN.
Depois, o ministro do Meio Ambiente alega ter sido procurado pelo senador Telmário Mota (PROS-RR), pressionado por eleitores que foram objeto de fiscalização. Ele cita, em seguida, os senadores Zequinha Marinho e Mecias de Jesus (Republicanos-RR), deixando subentendido que também estariam sendo intimidados por pessoas ligadas à extração ilegal de madeira.
“Depois fomos procurados pelo senador Telmário Mota (PROS-RR), porque os seus eleitores lá no estado de Roraima também foram objeto de fiscalização. Fomos procurados pelo senador Zequinha Marinho (PSC-PA) e Mecias de Jesus (Republicanos-RR), ou seja, eu estou lhe falando de quatro senadores. Para além disso, três deputados federais”, complementou.
Ricardo Salles não revelou quem foram os outros dois deputados federais, além da catarinense Caroline de Toni.
A interferência do ministro no caso resultou em uma notícia-crime contra ele e o senador Telmário Mota no Supremo Tribunal Federal (STF), e na substituição do superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, que o acusou de agir para favorecer madeireiros.
Controvérsias
Em fevereiro de 2020, Zequinha Marinho apareceu em vídeo ao lado do prefeito de Senador José Porfírio, Dirceu Biancardi (PSDB), afirmando que as fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) seriam paralisadas por 30 dias no Pará.
Antes disso, ambos haviam sido recebidos por procuradores da República na 4ª Câmara de Coordenação e Cooperação do Ministério Público Federal, que cuida de Meio Ambiente. A reunião tratou da terra indígena Ituna-Itatá, no sudoeste do estado, e foi articulada por Ricardo Salles.
A ata da reunião, porém, desmentiu a alegação de Zequinha Marinho de que o Ibama deixaria de fiscalizar por um mês no Pará. Foi o próprio ministro Salles que não permitiu, diante dos procuradores do MPF, que defenderam a preservação da flora.
Em abril passado, quando o Ibama realizou uma megaoperação de combate ao desmatamento na região, “o maior grileiro de terras indígenas da Amazônia”, Jessonio Costa Leite, recorreu ao apoio de políticos para tentar barrar a ação e foi bater na porta do gabinete de Zequinha.
O senador, como contou reportagem realizada pelo Estadão, recebeu o empresário e sua filha, chegando a gravar vídeo para criticar o Ibama e dizer que estava recorrendo ao governador do Pará, Helder Barbalho, para dar fim à operação. Questionou o apoio do governo paraense e sua Polícia Militar para o que chamou de “cobertura a servidor bandido e malandro como esse pessoal do Ibama”.
Já no início deste mês, Zequinha Marinho esteve ao lado de Ricardo Salles em áreas de desmatamento na Região Amazônica, reunido com madeireiros ilegais.
Informações: Debate Carajás | Portal Gazeta do Povo